sábado, 25 de fevereiro de 2012

O CRIADOR ESTÁ MORTO


Em Foco – Dam L. Barros.

O CRIADOR ESTÁ MORTO

Entrevista por Mira Cruz, da Estaca Zero.

Numa conversa fictícia, descontraída, exclusiva, original e inédita,  onde um aspirante a escritor e roteirista, é entrevistado por uma de suas personagens, Barros conta tudo sobre Navarro, o roteiro que escreveu já há algum tempo, mas ainda não teve coragem de apresentá-lo a um produtor. Este sujeito baixinho, de voz áspera e quase inaudível, de temperamento inquieto e gestos nervosos, reflete nas suas expressões o passado duro e sem nenhuma expectativa que norteou sua vida ao longo de todos esses anos. Barros foi office-boy aos 16, vendedor “frustrado” aos 20, peão de obra aos 22 e por último foi cabreiro. Hoje, aos 40 anos, é só o idiota da família “Barros”.

“Qual é a trama de Navarro?”
Basicamente, é sobre um escritor de histórias policiais, encontrado morto no seu apartamento com um tiro no ouvido. Todos os indícios apontam suicídio. A polícia diz que foi suicídio. Mas, um de seus personagens, o detetive Nick Navarro, desconfia que seu criador, de fato, foi assassinado e resolve investigar o caso.
“Quer dizer então, que o detetive Nick Navarro, emerge da ficção para um contexto realista?”
Sim. Na verdade, são duas narrativas intercaladas, que se passam em cidades diferentes e épocas distintas.
“Sei. É um filme dentro do filme?”
Isso mesmo! A primeira narrativa enfoca o cotidiano carioca dos ebulientes anos 80 e acompanha os últimos passos de Ruy Diaz, o escritor. Diaz, escreve livros que ninguém lê, e nas horas vagas, dirige filmes pornográficos. Ao ser encontrado morto no seu apartamento, num caso de aparente suicídio, entra em cena o detetive Nick Navarro, que suspeita que o seu criador foi assassinado.
“Perdoe minha intromissão, mas quem confundiria assassinato com suicídio?”
Por aqui, isso é bastante comum. Há casos que aparentam assassinato, mas a polícia diz que é suicídio, e corrobora tal afirmação com dados imprecisos e pistas inconclusivas.
“Mas voltando a Navarro...”
No caso, a cena teria sido forjada para parecer suicídio. Neste ponto da história, Nick se transfere para o mundo do escritor, conquista a namorada deste – uma bela e jovem atriz pornô, no caso, você, com 25 aninhos à época – enquanto empreende sua busca desenfreada pelo assassino, tentando entender as motivações do crime.
“É algo bastante interessante. O que motiva uma pessoa a cometer um crime?”
É esse o cerne da questão. No caso de Navarro, a pergunta que não quer calar e que o atormenta ao longo da investigação é: Quem em sã consciência mataria um escritor medíocre e frustrado?
“E a outra narrativa?”
A outra narrativa é ambientada na Nova Iorque dos anos 40 e põe em foco o próprio detetive Nick Navarro, que ao investigar um caso banal de adultério, envolve-se amorosamente com a cliente que o contratou.
“Isso normalmente não acaba bem. Juntar o profissional e o pessoal é uma mistura quase sempre explosiva”
No caso de Nick e Bette, a cliente que o contratou e que se tornou sua amante, a paixão desenfreada entre eles vai conduzí-los a uma cilada, onde um trágico desfecho  os espera.
“Paixões tórridas são um atrativo a mais nos filmes policiais. É um filme policial?”
Sim, é um filme policial. Na verdade dois – o primeiro é um policial moderno com toques de humor e o segundo é um típico film noir. Mas neles, a violência é simbólica e o sexo é apenas sugerido.
“Como assim?”
É que tudo aquilo que você torna explícito, causa um impacto tremendo, mas o efeito deste impacto inicial se dilui rapidamente. Agora, se ao contrário, você sugere, insinua e apoia a narrativa em nuanças e significações vagas e misteriosas, então o interesse vai durar o tempo todo.
(continua)      

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