segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Carícias e Sussurros


Um conto de Dam L. Barros



          Nenhum homem poderia eximir-se do fascínio de tamanha beleza. Seu olhar era um convite à sondagem de mistérios serenos e deliciosos. A doce fragrância que seu corpo exalava, sugeria carícias sublimes. O calor que emanava da sua pele alva e tépida era pura excitação. Mas nenhum homem seria capaz de conspurcar e macular tamanho recato. Sua beleza recatada, reforçada por gestos discretos,se erguiam como uma barreira à lascívia e à libido que habitam o universo masculino. Que homem seria digno de uma mulher, que à primeira vista se mostrava inatingível?
         Ele não tinha nenhum traço que o tornasse um homem extraordinário, pelo contrário, não passava de um homem comum. Não era de todo feio, mas também não era bonito e nem precisaria sê-lo. Para as mulheres, a beleza masculina é só uma nuanca, que se dissipa com as primeiras impressões, quando não se torna um entrave às  deliberações do amor. Mas o magnetismo do seu olhar, a voz segura e os gestos firmes, causavam uma sensação de conforto e segurança. Ela não se mostrou indiferente às investidas dele. E depois de um jogo árduo e revelador da persistência de um homem em conquistar o amor de uma mulher, ela enfim, cedeu às exigências do amor. Um amor selvagem e desenfreado, temperado por juras  eternas.
          Mas, aos olhos do mundo, este amor não existia. Ninguém seria capaz  de supô-lo. Ninguém seria capaz de adivinhá-lo. Pois diante de olhos curiosos, ela o tratava com indiferença e ele fingia não se abalar com o fascínio que ela exercia e irradiava ao passar. Eles se falavam por olhares discretos, que espelhavam atos ambíguos... uma linguagem codificada e cheia de simbolismos. Uma linguagem cifrada, carregada de duplos sentidos. Só aqueles mais atentos poderiam adivinhar  e tentar vislumbrar as faíscas que este amor lançava sobre dois corações enamorados e enfeitiçados.
          Quando o jogo entre eles se tornava algo prestes a fugir de controle, um olhar bastava apenas. Em alguns casos, ela passava junto dele, e roçava de leve seu corpo no dele, com um suave arrepio, um estremecer de corpos, um fremir de asas. Em outras oportunidades, ela prendia os cabelos, pois sabia que ele adorava soltá-los, antes dos dois se amarem. O amor deles era ritualista, cheio de iniciações que levavam à excitação mútua. Ela não resistia às carícias  que ele lhe fazia e pedia que ele sussurrasse palavras de amor ao seu ouvido, fazendo com que a excitação e o desejo a conduzissem ao ponto máximo da conjunção carnal. E depois de satisfeita, ela se vestia e se recompunha aos poucos, com gestos mecânicos e desdramatizados, demonstrando um  distanciamento, que lhe conferiam o status de deusa. Enquanto ele apenas a observava e aproveitava para beber da beleza e do fascínio que ela derramava sobre o leito do amor. Seu rosto lindo refulgia raios no ar translúcido e a envolvia numa aura divina. Ela era toda, inteira, a essência de um sonho. Seus lábios murmuravam doces palavras entrecortadas por suspiros e embebidas no silêncio.
          Os dois se despediam com um beijo e voltavam ao palco da vida, e se esforçavam para representar com garra e afinco, seus  papéis -  de mulher indiferente e pudica e de homem desatento e disperso-, por trás dos quais, se resguardava um amor sincero, vivaz e sempre entremeado por carícias e sussurros.



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