Um conto de Dam L.
Barros
Nenhum homem poderia eximir-se do
fascínio de tamanha beleza. Seu olhar era um convite à sondagem de mistérios
serenos e deliciosos. A doce fragrância que seu corpo exalava, sugeria carícias
sublimes. O calor que emanava da sua pele alva e tépida era pura excitação. Mas
nenhum homem seria capaz de conspurcar e macular tamanho recato. Sua beleza
recatada, reforçada por gestos discretos,se erguiam como uma barreira à
lascívia e à libido que habitam o universo masculino. Que homem seria digno de
uma mulher, que à primeira vista se mostrava inatingível?
Ele não tinha nenhum traço que o
tornasse um homem extraordinário, pelo contrário, não passava de um homem
comum. Não era de todo feio, mas também não era bonito e nem precisaria sê-lo.
Para as mulheres, a beleza masculina é só uma nuanca, que se dissipa com as
primeiras impressões, quando não se torna um entrave às deliberações do amor. Mas o magnetismo do seu
olhar, a voz segura e os gestos firmes, causavam uma sensação de conforto e
segurança. Ela não se mostrou indiferente às investidas dele. E depois de um
jogo árduo e revelador da persistência de um homem em conquistar o amor de uma
mulher, ela enfim, cedeu às exigências do amor. Um amor selvagem e desenfreado,
temperado por juras eternas.
Mas, aos olhos do mundo, este amor
não existia. Ninguém seria capaz de
supô-lo. Ninguém seria capaz de adivinhá-lo. Pois diante de olhos curiosos, ela
o tratava com indiferença e ele fingia não se abalar com o fascínio que ela
exercia e irradiava ao passar. Eles se falavam por olhares discretos, que
espelhavam atos ambíguos... uma linguagem codificada e cheia de simbolismos.
Uma linguagem cifrada, carregada de duplos sentidos. Só aqueles mais atentos
poderiam adivinhar e tentar vislumbrar as
faíscas que este amor lançava sobre dois corações enamorados e enfeitiçados.
Quando o jogo entre eles se tornava
algo prestes a fugir de controle, um olhar bastava apenas. Em alguns casos, ela
passava junto dele, e roçava de leve seu corpo no dele, com um suave arrepio,
um estremecer de corpos, um fremir de asas. Em outras oportunidades, ela
prendia os cabelos, pois sabia que ele adorava soltá-los, antes dos dois se
amarem. O amor deles era ritualista, cheio de iniciações que levavam à
excitação mútua. Ela não resistia às carícias
que ele lhe fazia e pedia que ele sussurrasse palavras de amor ao seu
ouvido, fazendo com que a excitação e o desejo a conduzissem ao ponto máximo da
conjunção carnal. E depois de satisfeita, ela se vestia e se recompunha aos
poucos, com gestos mecânicos e desdramatizados, demonstrando um distanciamento, que lhe conferiam o status de
deusa. Enquanto ele apenas a observava e aproveitava para beber da beleza e do
fascínio que ela derramava sobre o leito do amor. Seu rosto lindo refulgia
raios no ar translúcido e a envolvia numa aura divina. Ela era toda, inteira, a
essência de um sonho. Seus lábios murmuravam doces palavras entrecortadas por
suspiros e embebidas no silêncio.
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